sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

RUYSBROECK (1293-1381)

Jan van Ruysbroeck, chamado 'o Admirável', foi um místico belga, de expressão flamenga, nascido em 1293, na aldeia que lhe deu o nome, nas proximidades de Bruxelas.

Depois de estudos em Bruxelas, Jan van Ruysbroeck foi ordenado sacerdote em 1317. Ali permaneceu a serviço da catedral de Santa Gúdula. Por volta dos seus 50 anos se retirou para uma ermida numa floresta, acompanhado por seu tio e outros amigos. Ali iniciaram uma vida austera, meio eremítica e meio conventual, alternando a oração com o trabalho. Ao ser organizada a comunidade em mosteiro regular, foi eleito seu primeiro Prior, em 1350, fato que gerou ao mesmo tempo sua grande influência. Ruysbroeck era procurado por inúmeras pessoas procurando orientação espiritual e mística.

Obras (cerca de 12):

- O Adorno das Bodas Espirituais, em três livros, respectivamente sobre as formas da vida ativa, vida interior, e vida contemplativa;
- O Livro de Quatro Encantos;
- Da Fé Cristã;
- O Espelho da Salvação Eterna, em que a alma se espelha como imagem de Deus;
- Ensino da Bíblia sobre Cristo;
- O Tabernáculo, imaginando sete moradas no interior da alma;
- O Reino dos Amantes de Deus, sobre os dons do Espírito Santo;
- O Livro da Verdade Suprema, explicando os dons a que se refere o anterior;
- O Livro dos Sete Claustros, ou sete renúncias;
- As Doze Virtudes, as virtudes que servem de meios para atingir a contemplação;
- Quatro Tentações, em que, entre outros temas, é refutado o panteísmo dos "irmãos do livre espírito".

Nos seus escritos Ruysbroeck expôs uma espiritualidade que abandona o formalismo intelectualista da escolástica de até então, enveredando por um misticismo mais acentuado e por uma linguagem simbólica.

Classifica-se Ruysbroek, como Tauler e Gerson, entre os místicos ortodoxos, diferentes do modelo, por exemplo de Eckhart, mais próximo do panteísmo e da tradição neoplatônica derivada através de Pseudo Dionísio e de Escoto Erígena. Contudo se mantém próximo a estes outros.

Ruysbroeck exerceu enorme influência na teologia mística dos séculos posteriores. É um dos autores que teve a influência mais profunda e universal na teologia mística. É um dos maiores autores ascético-místicos de todos os tempos.

Os textos de Ruysbroeck, que usa o flamengo, se destinam ao leitor simples. Ele inspirou muitos outros autores, tanto do mesmo flamengo, como de outras línguas para as quais se operou tradução. Caracterizam-se pelo uso de imagens sensíveis, através das quais Ruysbroeck busca mostrar uma verdade mais ao fundo.

Ruysbroeck constitue uma ponte entre a escola alemã de Eckhart, Tauler e Henrique Suso, da qual aprendeu muito, e a "Devotio Moderna", a qual ensinou muito.

Ruysbroeck faleceu com 88 anos, em 1381, em odor de santidade e rodeado por numerosos discípulos.
Em 1908 Ruysbroeck foi beatificado pela Igreja.

PENSAMENTOS DE RUYSBROECK

"Enquanto vivemos nas sombras não podemos ver o próprio sol, pois como disse São Paulo enxergamos obscuramente através de um espelho. Mesmo assim a sombra é iluminada pelo sol de modo a percebermos as distinções entre todas as virtudes e toda a verdade que são de valor para nossa condição mortal. Mas se havemos de nos tornar unos com a luz do sol devemos seguir o amor e esquecer de nós mesmos no "Sem-Caminho", e então o sol atrairá a nós, com nossos olhos cegos, para dentro de seu fulgor, onde possuiremos a unidade com Deus... Em Sua benevolência Ele quer ser todo nosso: então Ele nos ensina a viver nas riquezas das virtudes. Em Seu toque interno todos os nossos poderes nos abandonam, e então sentamos sob Sua sombra, e Seu fruto é doce para nossos sentidos, pois o fruto de Deus é o Filho de Deus, a Quem o Pai faz nascer em nosso espírito. Este Fruto é tão infinitamente doce aos nossos sentidos que não podemos nem engolí-lo e nem assimilá-lo, mas antes é Ele quem nos absorve em Si mesmo e nos assimila em Si mesmo".

"Ó Deus, arquejo em meu desejo mas não posso comungar com o Senhor. Quanto mais eu como mais selvagem é a minha fome; quanto mais eu bebo, mais violenta é a minha sede. Persigo o que foge de mim e enquanto persigo, aumenta meu desejo".

"Quando lerdes, cantardes ou rezardes... prestai atenção ao sentido das palavras que pronunciardes e às idéias que exprimem, porque estais executando um serviço sob o olhar divino".

"Se, durante a recitação das Horas, fordes assaltados por pensamentos ou imaginações estranhas, fazei de modo a vos recolherdes novamente sem vos perturbardes, porque somos instáveis por natureza; mas apressai-vos em tornar a Deus. Com intenção e com amor".

"Ó Deus, deseje o íntimo do meu espírito para que eu possa vê-Lo como o Senhor me vê, e possa amá-Lo como o Senhor me ama".

"Ame o amor que o ama duradouramente, pois quanto mais amá-lo, mais Ele o amará. ... E quanto mais a alma rende-se à atração de Deus, mais ansiará por amá-lo".

"O homem interior entra em si de maneira simples, acima de toda a atividade e de todos os valores, a fim de aplicar-se a um simples olhar no amor de fruição e ali encontra Deus, sem intermediário".

"Não podemos contemplar Deus pelo próprio Deus, sem intermediário, se não nos perdermos na indeterminação sem caminho e numa obscuridade onde todos os contemplativos erram no prazer, sem nunca mais se voltarem a encontrar a si mesmos segundo a forma da criatura".

"Aqui, o espírito morre na beatitude da fruição, dissolve-se na nudez essencial onde todos os nomes de Deus, todas as condições e todas as imagens que se refletem no espelho da verdade divina mergulham na simplicidade sem nome da essência, no sem-caminho onde nenhum raciocínio tem poder".

"Nós contemplamos intensamente aquilo que somos; e aquilo que contemplamos, isso mesmo somos: assim a nossa mente, vida e essência é elevada e unida à própria verdade, que é Deus. Nesta simples e intensa contemplação somos uma única vida e um único espírito com Deus. Esta chamo eu vida contemplativa".

"As ordens mais altas (Querubins, Serafins, Tronos) não se unem em nossa luta contra nossos vícios, mas moram conosco apenas quando, acima de todo conflito, estamos em paz com Deus, em contemplação e em perene amor".

"Aquele que é dotado de boa vontade, promete-se a ele próprio, e deseja ardentemente amar a Deus e servi-lo, não somente nesta vida, mas durante a eternidade".

"O espírito possui Deus essencialmente na sua nua natureza e Deus possui o espírito. O espírito vive em Deus e Deus vive nele. Esta unidade essencial reside em Deus; se ela faltasse, todas as criaturas seriam reduzidas ao nada".

"Este brilho é tão grande que o amante contemplativo, sobre o chão em que repousa, não vê nem sente nada exceto uma Luz incompreensível; e apesar desta Nudez Simples que engloba todas as coisas, ele se descobre e sente a si mesmo como sendo esta mesma Luz através da qual ele vê e nada mais... Benditos os olhos que vêem assim, pois eles possuem a vida eterna".

"Se pudéssemos renunciar a nós mesmos e a todo o egoísmo em nosso trabalho, deveríamos, com nosso espírito nu de imagens, transcender todas as coisas, e sem intermediários ser conduzidos pelo Espírito de Deus até a Nudez... Quando transcendermos a nós mesmos, e nos tornarmos, em nossa ascensão para Deus, tão simples que o amor nu das alturas possa nos tomar, onde o amor abraça o amor, acima do exercício de qualquer virtude - isto é, em nossa Origem, de Onde nascemos espiritualmente - então cessamos, e nós e toda nossa individualidade morre em Deus".

"Lá ele encontra revelada uma Luz Eterna, e nesta Luz ele sente a eterna demanda pela Divina Unidade, e ele sente ser ele mesmo um eterno fogo de amor, que deseja acima de tudo ser uno com Deus. Quanto mais atende a esta demanda, mais a sente... e assim pode-se ver que a Unidade interior de Deus não é nada mais do que o Amor insondável... e portanto devemos todos alicerçar nossas vidas sobre um abismo insondável, para que possamos mergulhar eternamente no Amor e nos precipitarmos na Profundeza insondável".

"O homem deve mergulhar naquela Nudez sem imagens que é Deus; esta é a primeira condição, e o fundamento, de uma vida espiritual".

"Aqueles que seguem o caminho do amor, são os mais ricos dos viventes: São ousados, francos e destemidos, não têm aflições nem preocupações, pois o Espírito Santo carrega todos os seus fardos. Eles não procuram aparências exteriores, nem desejam nada que o homem estima, não ostentam uma conduta especial, e passariam por homens bons como quaisquer outros".

"A segunda vinda de Cristo, nosso Esposo, tem lugar cada día dentro dos homens de bem; geralmente e muitas vezes, com graças e dons novos, em todos aqueles que se aprestam a si mesmos por ela, cada um segundo seu poder"

5 comentários:

almariada disse...

Olá!

Copiei um bocadinho de um texto de Ruysbroeck para o post de hoje do meu blog, com link para aqui.

Muito obrigada!

Bem-haja

Anônimo disse...

Agradeço que encontrei algo sobre Ruysbroeck, em seu blog. Gostaria de saber onde posso encontrar seus escritos, especialmente seus livros, se é que são traduzidos?
Agradecida,
Irmã Maria

Anônimo disse...

Por favor,
gostaria de saber mais sobre os livros de Ruysbroeck e onde posso adquiri-los; meu e-mail isabelviva@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Ruysbroeck disse também: "O homem tem que ser livre e sem imagens.Livre de todos os apegos e e vazio(s) de todas as criaturas."Puro Zen para um místico flamengo.Lin de Varga

Anônimo disse...

Obrigada pelo acesso aos pensamento de tão desconhecido místico