A NUVEM DO NÃO-SABER é um livro clássico da espiritualidade monástica. Foi escrito por um monge inglês no século XIV. Ele ensina uma oração/meditação não discursiva, em que entra-se em si mesmo e dirige-se a Deus ou o olhar interior ou uma palavrinha curta. Segundo o autor o acesso a Deus não se faz pelo pensamento ou pela razão, mas pelo silêncio.
O nosso amor nu — nu por estar despojado de pensamento — deve elevar-se até Deus, oculto por trás da nuvem do não-saber. Com a nuvem do não-saber por cima de mim — entre meu Deus e eu, e a nuvem do esquecimento debaixo —, entre todas as criaturas e mim, encontro nele o "silêncio místico", que o autor inglês conhece pela obra do Pseudo-Dionísio.
Além da influência exercida por esse livro na espiritualidade de sua época, cabe a nosso tempo ter redescoberto — depois de cinco séculos de esquecimento quase total — um autor que parece estar em moda nos movimentos de oração e meditação cristã e não cristã no Ocidente. "Neste clima, os que procuram um guia místico não podem fazer nada melhor do que se dirigir ao autor anônimo do século XIV de A Nuvem do não-saber." "Trata-se de um inglês místico, teólogo e diretor de almas, que se situa em plena corrente da tradição espiritual do Ocidente. Um escritor de grande força e de notável talento literário, que compôs quatro tratados originais e três traduções".
Abaixo alguns trechos de A Nuvem do Não-Saber...
PENSAMENTOS DE A NUVEM DO NÃO-SABER
"Ó Deus, a quem todos os corações estão abertos, para quem o desejo é eloquente e de quem nenhuma coisa secreta é escondida, purificai os pensamentos de meu coração pelo transbordar de vosso Espírito em mim, que eu possa amar-vos com um amor perfeito e louvar-vos como vós mereceis. Amém!"
"Pois quando você começa a executá-lo pela primeira vez, tudo quanto você encontra é escuridão, uma espécie de nuvem do "não-saber"; você não pode dizer o que é, exceto que você sente, através de sua vontade, um simples desejo de alcançar Deus. Esta escuridão com a nuvem está sempre entre você e o seu Deus, não importa o que você faça, e é esta que o impede de ver Deus claramente através da luz do entendimento de sua razão, ou ainda que o impede de conhecer Deus na doçura do amor em sua própria afeição. Portanto, comece a descansar nesta escuridão enquanto você puder, gritando sempre por Ele, a quem você ama".
"Aquele a quem nossa mente não pode compreender, o nosso coração pode abraçar."
"Portanto, organize bem o seu tempo e a forma como o utiliza. Nada é mais precioso que o tempo. Uma pequena partícula de tempo, por menor que seja, é preciosa, pois devido a ela o céu pode ser ganho ou perdido."
"Portanto, preste cuidadosa atenção a este exercíco e ao modo maravilhoso como ele age dentro de sua alma. Pois quando é bem compreendido, ele nada mais é do que um súbito impulso, algo que chega sem avisar, elevando-se, voando rapidamente até chegar a Deus, como a faísca voa para cima partindo do carvão ardente".
"Eleve seu coração para Deus com um humilde impulso de amor; e tome Ele mesmo como seu objetivo e não como qualquer um de seus bens. Tenha cuidado: evite pensar em outra coisa que não seja nele mesmo, de maneira que não haja coisa alguma em que a sua razão ou a sua vontade trabalhe, exceto Ele mesmo. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para esquecer todas as criaturas que Deus já criou, para que, nem o seu pensamento, nem o seu desejo, em geral ou em particular, sejam dirigidos ou estendidos a qualquer uma delas. Deixe-as em paz e não preste atenção nelas. Esta é a obra que mais agrada a Deus".
"Assim, portanto, pode-se entender logo o método deste trabalho e perceber claramente que ele se encontra muito afastado de qualquer fantasia ou falsa imaginação ou opinião sutil: uma vez que todas estas não são ocasionadas por aquele simples, devoto e humilde impulso do amor, mas por um raciocínio orgulhoso, especulativo e excessivamente imaginativo...."
"Portanto, pelo amor de Deus, tome cuidado neste exercício e de nenhum modo trabalhe com seus sentidos ou com a sua imaginação. Pois, eu lhe digo sinceramente, este exercício não pode ser alcançado através do trabalho deles; assim, pois, deixe-os e não trabalhe com eles."
"Tenho algo a lhe dizer: tudo quanto você pensar está acima de você durante este espaço de tempo, e está entre você e o seu Deus. Na medida em que houver alguma coisa em sua mente exceto Deus só, nesse mesmo instante você estará longe de Deus."
"Agora, porém, você me faz uma pergunta dizendo: "Como eu poderia pensar nele mesmo e o que Ele é?" A isto eu só posso responder nestes termos: "Não tenho a menor idéia". Pois, com esta pergunta, você me introduziu nessa mesma escuridão, nessa mesma nuvem do não-saber onde eu gostaria que você mesmo estivesse. Porque um homem pode, pela graça, possuir a plenitude do conhecimento de todas as criaturas e das suas obras como também das obras do próprio Deus, e ele é bem capaz de refletir sobre elas. Mas homem nenhum pode pensar em Deus como Ele mesmo".
"Portanto, embora o pensamento seja uma luz e uma parte da contemplação, mesmo assim neste exercício, ele deve ser rejeitado e coberto com uma nuvem do esquecimento. Você deve pisar por cima dela corajosamente mas com amor, e munido de um amor devoto, agradável e impulsivo esforçar-se para atravessar essa escuridão acima de você. Você tem que bater nessa nuvem do não-saber com um dardo afiado de amor ardente".
"Se surgir algum pensamento que continue a pressionar, acima de você e entre você e essa escuridão, e lhe perguntar: "O que você procura e o que gostaria de ter?", você deve dizer que é a Deus que gostaria de ter: "É Ele que eu almejo, Ele a quem eu procuro, e nada além dele". E caso o seu pensamento indagar quem é esse Deus, você deve responder que é o Deus que criou você e o resgatou, e que, com a sua graça o chamou para seu amor. E diga: "Você não tem nenhum papel para representar". Portanto, diga ao pensamento: "Vá para baixo novamente". Esmague-o rapidamente com um impulso de amor, mesmo que este pareça ser muito santo..."
"Portanto, quando você iniciar este exercício, e souber por experiência, através da graça, que você está sendo chamado por Deus para isso, levante então seu coração para Deus com um humilde impulso de amor e destine-o ao Deus que criou você e o resgatou, e que na sua graça chamou você para este exercício. Não tenha outro pensamento sobre Deus; nem mesmo qualquer um destes pensamentos, a menos que seja de seu agrado. Pois uma simples aproximação em linha reta a Deus é suficiente, sem nenhuma outra causa exceto Ele próprio. Se você quiser, pode ter esta extensão envolvida e cingida em uma só palavra. Por isso, a fim de obter melhor compreensão disto, tome só uma palavrinha, de uma sílaba, preferivelmente, ou de duas; pois quanto mais curta, melhor, de acordo com este exercício do espírito. Assim é a palavra 'DEUS' ou a palavra 'AMOR'".
"O silenciar dos nossos sentidos físicos conduz muito mais facilmente à experiência das coisas espirituais; da mesma maneira, o silenciar de nossas faculdades espirituais conduz a um conhecimento experimental de Deus, tanto quanto este seja possível, através da graça, na vida presente."
"Trabalhe com afinco neste 'nada' e neste em 'parte alguma', e abandone seus sentidos físicos externos como também os objetivos de sua atividade. Pois eu lhe digo sinceramente que este exercício não pode ser compreendido por eles".
"Pois está determinado pela natureza que através dos sentidos físicos os homens tenham conhecimento de todas as coisas físicas, e não que através destas tomem conhecimento de coisas espirituais".
"Nós fomos feitos para amar e todo o resto foi criado para tornar o amor possível"
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
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3 comentários:
Caro Gilberto, voce conhece a edição da assirio e alvim?? é bem bonita e tem um tom diferente deste que voce colocou.
Perfeito, profundo, maravilhoso. Amei!
Conheci o blog hoje. Muito obrigado!
Gosto do teu blog. Temos interesses comuns; biologia, filosofia, psicologia. Fiz também teologia. Hoje 60 anos de busca de compreensões... Encantada com a vida! Parabéns pela qualidade!
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